Diário do Alentejo

"O desafio principal [dos empresários olivícolas] é a comunicação"

24 de março 2022 - 11:50

Três perguntas a Gonçalo Almeida Simões, diretor executivo da OLIVUM –Associação de Olivicultores e Lagares do Sul

 

Texto José Serrano

 

Quais os pressupostos da categoria – Reconhecimento de Desenvolvimento Estratégico – que permitiram à Olivum receber esta distinção no World Olive Oil Exhibition?

Este prémio tem dois pressupostos, sendo que o primeiro é o olival moderno do Alentejo ter passado a ser uma referência a nível internacional, comparando e ultrapassando aqueles que, classicamente, são os casos de sucesso mundial. O Alentejo conseguiu pegar no modelo de olival de alta densidade e obter resultados únicos em termos de produtividade, passando de uma média de 0,5 tonelada/hectare, em 2000, a nível nacional, para explorações que podem produzir 20 toneladas/hectare, no Alentejo. O segundo pressuposto é o reconhecimento do desenvolvimento estratégico da Olivum que, ao longo dos anos, cresceu em número de associados, contando hoje com 115, que representam 45 000 hectares e mais de 300 explorações. Em 2020, a Olivum passou também a representar os lagares, pois num setor verticalizado a nível empresarial faz sentido acrescentar a dimensão do processamento à produção, para gerar mais massa crítica e manter o setor unido.

 

Qual a importância deste galardão para os olivicultores e lagares do baixo Alentejo?

Este prémio é o culminar de um ciclo, uma vez que o setor, desde 2002 – quando se abriram as comportas do Alqueva –, tem trabalhado de forma incessante. Os primeiros resultados começaram a aparecer ao fim de três anos, com as primeiras produções, mas a consolidação foi feita na década seguinte, com a mensagem de admiração a começar a correr mundo, trazendo prestígio e distinção a esta e a outras regiões do País, onde se resolveu plantar olival de regadio de alta densidade. Portugal é hoje o 6.º maior produtor mundial e o 4.º maior exportador mundial de azeite. O foco do setor é duplo – é ótimo termos uma das maiores produtividades do mundo, mas ainda mais importante é saber que 95 por cento do azeite, virgem extra ou virgem, produzido em Portugal, supera em qualidade qualquer outro país produtor.

 

Que desafios, principais, se colocam aos empresários dos olivais modernos, a curto/médio prazo, no território?

O desafio principal continuará a ser a comunicação. Qualquer sucesso redundante tem um ónus e existirá sempre uma minoria que criticará o setor – pela sua dimensão e por este ter nascido do projeto de Alqueva, mal-amado por muitos. Estaremos atentos ao debate e privilegiaremos o contraditório, sempre que as regras do jogo democrático permitam que a ciência seja o árbitro e o móbil da boa decisão política. No entanto, sempre que o debate for politizado e o bom senso não imperar, cá estará a fundamentação científica do lado do setor, para trazer racionalidade a alguns exaltamentos. O setor está consciente das boas práticas já implementadas ao nível da sustentabilidade ambiental e social, mas quer sistematizar, institucionalizar e certificar estes valores, essenciais para o ADN deste setor, que não se contenta apenas em produzir muito, mas também em produzir bem.

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